O acordo de Paris e as Cidades
23 de agosto de 2017 |
O recente anúncio da saída dos Estados Unidos do ‘Acordo de Paris’, feito pelo Presidente Donald Trump, deixou a comunidade científica – em especial ambientalistas – apreensivos quanto ao rumo das políticas de redução de emissão de carbono no mundo. A polêmica em torno das ações do republicano no campo internacional ampliou o alerta sobre os impactos desta decisão.
O chamado Acordo de Paris Sobre o Clima é coordenado pela ONU e determina, dentre outras medidas, que países desenvolvidos invistam U$100 bilhões/ano com o objetivo de reduzir o aquecimento global. A despeito do argumento de que tal problema não deriva do modelo atual de produção industrial, tese descartada até pelas empresas do setor de petróleo, o motivo da saída dos EUA é claramente protecionista. No anúncio o presidente afirma: “fui eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh, não Paris”. Em resposta, o prefeito de Pittsburgh garantiu seguir as diretrizes do Acordo de Paris.
Da mesma forma, várias organizações dentro e fora dos EUA se pronunciaram em defesa do Acordo, como o Instituto Americano de Arquitetos (AIA), a União Internacional de Arquitetos (UIA) e a Federação Panamericana de Arquitetos (FPAA), ao que aderiu o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Nota da FPAA destaca impactos do aquecimento global na América Latina e Central. O Brasil, que tem sua ocupação urbana majoritariamente litorânea, encontra‑se em posição frágil neste cenário.
Todavia, além das questões climáticas e ecológicas, quero destacar como o planejamento urbano e a arquitetura se inserem neste debate. É ingênuo achar que o problema se resume ao fim da matriz energética de derivados de petróleo. O maior emissor de carbono do planeta é a indústria de cimento, em sua grande maioria utilizado no setor da construção civil. Adicionalmente, as cidades representam hoje 70% do consumo global de energia. No caso do Brasil, saltamos de 50 para 170 milhões de habitantes nas cidades, com planejamento precário já conhecido. Estes dados dão a dimensão do desafio e da responsabilidade que os arquitetos e urbanistas têm pela frente.
A saída possível passa pelo entendimento de que é preciso vincular desenvolvimento econômico e social ao desenvolvimento urbano. O Seminário Q+50, organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em 2013, aponta caminhos nesta direção. O Brasil, signatário do Acordo de Paris, deve seguir suas diretrizes, mas sem perder de vista que a redução de carbono passa também pelo planejamento correto de nossas cidades, compactas e saneadas. Precisamos também de projetos com qualidade, que garantam edifícios eficientes e duráveis construídos com o correto uso de recursos naturais.
Fabiano Melo é arquiteto e urbanista (UFPB, 2005) e Mestre em Engenharia Urbana. Sócio fundador do escritório Vila Nova, é conselheiro superior do IAB-PB e Vice-Presidente Nacional do IAB para a região Nordeste.